O surpreendente Folk Horror de 'Hellboy e o Homem Torto' (2024)
por Giulia Nunes
Hellboy e o Homem Torto (2024) se distancia consideravelmente das outras produções da franquia, então já fica o alerta aos fãs das versões anteriores: esta nova abordagem não seguirá o mesmo tom “leve” de aventura e ação com veia cômica. Contando com o envolvimento criativo direto de Mike Mignola, criador de Hellboy e suas HQs, este novo filme oferece uma narrativa mais fiel aos quadrinhos, apresentando uma versão mais séria e sombria do personagem. Embora ainda possamos contar com seu humor ácido e sarcasmo para aliviar algumas cenas tensas, essas características são usadas de forma mais moderada e pontual. E não se engane: apesar de ser uma produção centrada no Hellboy, essa obra é, na verdade, um filme de terror tenso com uma forte inspiração no folk horror.
A história se passa em 1959 e, logo no início, acompanhamos nossos protagonistas - Hellboy (Jack Kesy) e Bobbie Jo Song (Adeline Rudolph), uma agente da B.P.D.P. - sendo lançados (literalmente) no meio da ação e desbravando uma floresta remota, atormentada por bruxas e figuras ainda mais sinistras. Guiados por um morador local, Tom Ferrell (Jefferson White), eles se deparam com mistérios e perigos que testam seus limites e que traçam conexões inesperadas com o passado de Hellboy.
A estética rústica e quase independente do filme, aliada a uma sonografia intensa e perturbadora, cria uma atmosfera sombria de desconforto e tensão. O uso de cortes abruptos e efeitos visuais alucinógenos ajuda a intensificar essa sensação. O antagonismo é representado principalmente por dois personagens marcantes: a atroz Effie (Leah McNamara), tão carismática quanto uma Harley Quinn da bruxaria, e o Homem Torto (Martin Bassindale), personagem-título cuja voz sinistra adiciona um clima ainda mais macabro. Sua origem é particularmente intrigante — dizem que em vida era Jeremiah Witkins, um homem rico e avarento do século XVIII que, após ser enforcado por seus crimes, retornou como servo da Besta, coletando almas em vez de moedas.
O filme se diferencia dos lançamentos atuais ao apostar em uma abordagem mais rudimentar e crua, o que se revela uma escolha acertada para a proposta. Não é indicado para os fracos de estômago nem para os que procuram entretenimento descontraído, já que conta com diversas cenas de susto e jumpscares bem utilizados para aumentar a tensão da trama. A obra brinca com o medo do desconhecido, explorando aquilo que não se vê, resgatando alguns dos medos mais primitivos da sociedade: o escuro, o pecado, o que nos espera após a morte. Não diria que é o filme de horror do ano e tem, sim, seus defeitos, mas me pegou desprevenida e acabei gostando bem mais do que esperava — é, ao mesmo tempo, uma baita homenagem aos fãs dos quadrinhos e um filme de horror bem decente para os fãs do gênero que não estão familiarizados com a franquia. Como é uma história independente, não exige conhecimento prévio da série e vale a pena conhecer!
VERSÃO RESUMIDA
Hellboy e o homem torto (2024) se distancia consideravelmente das outras produções da franquia, adotando uma abordagem mais séria e sombria, em contraste com o tom um pouco mais “leve” e cômico anterior. Contando com o envolvimento direto de Mike Mignola, criador de Hellboy, o filme oferece uma narrativa mais fiel aos quadrinhos, mantendo o humor ácido do personagem de forma sutil – afinal, trata-se, na verdade, de um filme de terror tenso, fortemente inspirado pelo folk horror.
Ambientado em 1959, acompanhamos Hellboy (Jack Kesy) e Bobbie Jo Song (Adeline Rudolph), junto ao morador local Tom Ferrell (Jefferson White), enfrentando bruxas e outras criaturas sinistras em uma floresta remota. Juntos, eles buscam desvendar mistérios relacionados aos problemas que o vilarejo vem enfrentando, descobrindo conexões inesperadas com o passado de Hellboy pelo caminho.
A estética rústica e a sonografia perturbadora criam uma atmosfera sombria de desconforto e tensão. Esse clima é intensificado pelos antagonistas principais: a carismática bruxa Effie (Leah McNamara) e o enigmático Homem Torto (Martin Bassindale) – um homem avarento do século XVIII que retorna como servo da Besta.
O filme se destaca por sua abordagem crua ao explorar medos primitivos, não sendo indicado para quem busca apenas entretenimento descontraído. Apesar de alguns defeitos, surpreende positivamente; servindo tanto como uma homenagem aos fãs dos quadrinhos quanto como um bom filme de horror para iniciantes na franquia. Como é uma história independente, não exige conhecimento prévio da série e vale a pena conhecer!
Giulia Nunes é formada em Letras pela USP, tradutora por profissão e amante do universo do Horror nas horas vagas. Especialmente afeiçoada por slashers, monstros clássicos e desenhos existencialistas :)Comentários despretensiosos sobre filmes de horror no Instagram: @dju.nunes
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