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O Legado de Horror Queer de "The Haunting" (1963)



The Haunting (1963) é um filme de terror dirigido por Robert Wise e adaptado do romance "A Assombração da Casa da Colina", escrito por Shirley Jackson e publicado em 1959. O filme conta a história de um pesquisador que convida um grupo de pessoas que já passou por experiências paranormais para passar alguns dias em uma mansão considerada assombrada, e que já foi palco de muitas tragédias. Dentre essas pessoas está Theodora, uma personagem enigmática que marcaria para sempre a história da representação queer dentro do Horror.


A representação da identidade queer de Theodora foi notável para a época - mas a ideia original era ir ainda mais longe. Na primeira versão do roteiro havia uma cena que deixava claro que Theo era lésbica e que mantinha um relacionamento com outra mulher. Na cena original, Theodora havia acabado de terminar com a namorada. As palavras “eu te odeio” podiam ser vistas escritas em um espelho com batom enquanto Theo gritava pela janela. Por fim, o diretor Robert Wise decidiu cortar a cena. Ele sentiu que o livro de Shirley Jackson trabalhou duro para tornar as coisas implícitas - e ele se preocupou que a cena tornasse a sexualidade de Theodora muito explícita.




Como era comum na época, os censores do cinema também conferiam o roteiro e as gravações dos filmes para garantir que não fossem longe demais quando se tratava de representação queer. Naquela época, os censores de filmes detinham um poder significativo quando se tratava do que os cineastas podiam ou não fazer. Eles tinham o poder de cortar sequências inteiras de filmes e alertavam rotineiramente os diretores para ficarem longe de certos tópicos e temas que seriam vistos como moralmente controversos. Como resultado, sem surpresa, as identidades LGBTQIA+ foram frequentemente apagadas dos filmes.


Na década de 1960, a homossexualidade não era retratada no cinema, exceto de forma sugestiva. Theo é apenas indiretamente sugerida como alguém queer porque a cena perto do início do filme que a mostrava discutindo com sua amante foi cortada. No entanto, há um confronto devastador entre Theo e Eleanor mais tarde, onde Eleanor a chama cruelmente de um dos "erros da natureza". A reação de Theo (Claire Boom) quando ela parece estar fisicamente atingida e agarra seus braços quase com dor é de partir o coração.





Apesar de todas as provocações de Eleanor e até sugestividade predatória, Theo é uma pessoa carinhosa que está segura em sua identidade como artista, mas talvez não tanto em sua sexualidade. A pergunta que permanece sem resposta é: foi Eleanor quem sabia exatamente como machucar Theo ou foi a casa tomando posse de Eleanor e atacando? Ao alienar Theo, a casa tornou Eleanor completamente isolada da única companheira que poderia ter empatia por ela como médium e mulher.


Se o filme fosse feito hoje, não ganharia exatamente nenhum prêmio por sua representação queer. No entanto, é importante lembrar que 1963 foi uma época muito diferente, e o filme representou um grande avanço para o período em questão. Neste momento a Revolta de Stonewall ainda não havia acontecido e a comunidade queer permanecia, em sua maior parte, na clandestinidade, longe da sociedade dominante. The Haunting errou muito quando se tratou de explorar a sexualidade de Theodora – mas também acertou muito, o que é uma das razões pelas quais o filme continua tão significativo culturalmente. O filme abriu as portas para que outras personagens queer pudessem ser retratadas no Horror, e ganhou o coração de inúmeros espectadores que se identificaram e conseguiram se enxergar em Theo.


 

Fontes:


 sobre o mulheres no horror: 

 

O Mulheres no Horror é um espaço de troca de informação, onde  compartilhando artigos e resenhas sobre livros e filmes, publicamos dicas sobre a temática, contamos a histórias de mulheres e pessoas queer que fazem parte do cinema e literatura de Horror, realizamos traduções de textos, entrevistas com pesquisadoras e cineastas, dentre outros conteúdos.

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