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Mary Harron: atitude punk no cinema de horror e a constante crítica ao sistema

Mary Harron nasceu em 12 de janeiro de 1953 em Bracebridge, Canadá e se mudou para a Inglaterra ainda jovem, aos 13 anos. Graduou-se em Inglês pela Universidade de Oxford e depois disso retornou ao continente americano, indo morar em Nova York nos anos 1970.


Nessa época, jovens revoltados com o sistema, sem muita esperança sobre o futuro e irritados com o estrelismo de major labels e bandas de rock progressivo, estavam iniciando um movimento que viria a revolucionar musicalmente e “espiritualmente” aquela geração, o punk. E o que isso tem a ver com Mary? Bom, ela escreveu para uma das revistas mais importantes do movimento, idealizada por Legs McNeil: a Punk Magazine

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No livro “Mate-me, por favor”, de McNeil e McCain, Mary diz que conheceu Legs quando morava em uma comunidade hippie que produzia filmes na Rua 14:


Legs chegou e foi o único que disse que aquele filme era um pé no saco e que aquela gente era louca. Então perguntei o que ele estava fazendo. Legs disse que estava só fazendo um trabalho de meio expediente no filme e me perguntou o que eu fazia. Eu disse que queria ser escritora, e ele disse: ‘A gente está lançando uma revista. Se chama Punk’.

Pensei: ‘Que nome brilhante!’ Não sei por que parecia tão brilhante, porque isso foi antes de haver o punk, mas era obviamente muito irônico. (...) Então eu disse: ‘Oh, eu vou escrever pra vocês’, embora não soubesse nada sobre a revista.

Umas noites depois, eu estava na cozinha da horrível comunidade de filme, lavando o chão, feito uma Cinderela, e preparando os pratos. Legs e John entraram e disseram que estavam indo pro CBGB’s, e pensei ‘Ok’. A gente foi pro CBGB’S ouvir os Ramones, e foi naquela noite que tudo aconteceu.” (p. 268 - 269).


Enquanto jornalista musical, Mary foi responsável pela primeira entrevista estadunidense com a banda Sex Pistols, e obviamente entrevistou grandes nomes do cenário musical da época como John Cale e Nico.


O movimento punk, que preza por emancipação, autonomia e do it yourself (“faça você mesmo”), também trouxe à diretora a inspiração para seu primeiro filme independente: I Shot Andy Warhol (1996), longa baseado na história de Valerie Solanas - interpretada por Lili Taylor - uma ativista feminista radical e lésbica que atirou em Warhol em 1968, quando o artista negou apoiá-la em sua peça. A ideia do filme não é exaltar Solanas mas sim retratá-la como apenas uma parte de um todo extremamente cruel, originado com uma cultura opressiva e associado a sua história de vida repleta de abusos e opressões.


O segundo longa da diretora trouxe grande reconhecimento para sua carreira. Psicopata Americano, lançado em 2000, é um clássico no cinema de horror, com críticas ácidas e repleto de violência. Em breve teremos uma resenha crítica do filme aqui (LINKAR no MNH.


Mary lançou seu terceiro filme em 2006. The Notorious Bettie Page é mais uma biografia, dessa vez sobre uma pin up dos anos 1950 que foi tida como ícone sexual e ficou famosa principalmente com suas fotos sensuais que misturavam inocência, religião e erotismo. Mesmo que Bettie tenha sido vista como uma mulher segura de seu corpo e sua sensualidade, a modelo foi vítima de violência doméstica e sofreu um estupro coletivo.


Os últimos longas de Mary foram Relação Mortal (2011) e As discípulas de Charles Manson (2018). O primeiro é um terror que se passa em um colégio interno onde um grupo de alunas acredita que a novata seja uma vampira, e o segundo é inspirado na seita de Charles Manson e traz a história de três jovens condenadas por assassinatos cometidos em nome de Manson.


Ao longo de sua carreira, a diretora dirigiu alguns episódios de séries, como The L Word, Six Feet Under, Big Love e The Following; também fez curtas para as séries da BBC The Late Show e Edge e documentários para o Channel Four. Mary também dirigiu a série Alias Grace (2017),baseada em um livro de Margaret Atwood e estava trabalhando num longa sobre Salvador Dali, Dali Land, cuja estreia estava prevista para este ano mas com a pandemia foi adiada para 2022. Haviam também boatos de que Mary iria dirigir um filme documentário sobre a cena punk em NY nos anos 1970.


O modo como Harron explora as personagens femininas - e outras minorias sociais - não limitando-as apenas à culpa psicologizante, mas refletindo sobre o sistema social e opressor em que estão inseridas, mostrando que a humanidade tem problemas estruturais muito mais profundos, é fundamental para pensarmos o papel do cinema - principalmente do cinema de horror, já que foi onde se consolidou - na construção crítica da sociedade.


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O Mulheres no Horror é um espaço de troca de informação, onde  compartilhando artigos e resenhas sobre livros e filmes, publicamos dicas sobre a temática, contamos a histórias de mulheres e pessoas queer que fazem parte do cinema e literatura de Horror, realizamos traduções de textos, entrevistas com pesquisadoras e cineastas, dentre outros conteúdos.

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